quarta-feira, 28 de outubro de 2009

Tem gente

Quando ela bateu à porta, ele respondeu "Tem gente". Mesmo assim, entrou. Olhou-o nos olhos, agarrou-o pelos colarinhos e despiu-lhe a carne humana, transformando-o num animal selvagem, bruto, musculado, carnívoro. Depois, domou-o, tornou-o frágil, doce, submisso. Não satisfeita, colocou-lhe uma trela... curta. E ele ficou preso a ela, babando de língua de fora, esvanecendo-se aos poucos até perder as garras e as mandíbulas.
Até deixar de ser animal.
Até deixar de ser gente, sem gente que lhe bata à porta.

domingo, 18 de outubro de 2009

Pergunta e resposta

A dúvida é amiga da solidão.
Não há um só ser que, quando não tem ninguém pra responder, se faz todas as perguntas.
Só, você tem a pergunta. Só, você tem a resposta.
Mas só você não vê, nem um e nem outro.
Calado no seu mundo, procurando o que está a sua frente.
No tempo e nos olhos. Num piscar ambos aparecem.

Suppion

quinta-feira, 8 de outubro de 2009

YES WE CAN


Conselhos no carro

Ontem a noite, voltei pra casa com o Chico...Buarque:

Não se afobe, não
Que nada é pra já
O amor não tem pressa
Ele pode esperar em silêncio
Num fundo de armário
Na posta-restante
Milênios, milênios
No ar

E quem sabe, então
O Rio será
Alguma cidade submersa
Os escafandristas virão
Explorar sua casa
Seu quarto, suas coisas
Sua alma, desvãos

Sábios em vão
Tentarão decifrar
O eco de antigas palavras
Fragmentos de cartas, poemas
Mentiras, retratos
Vestígios de estranha civilização

Não se afobe, não
Que nada é pra já
Amores serão sempre amáveis
Futuros amantes, quiçá
Se amarão sem saber
Com o amor que eu um dia
Deixei pra você

quarta-feira, 7 de outubro de 2009

Escolha difícil.

Na boca eu confio, sinto o quente, sinto o frio.
Já o olho eu desconfio, pois quer ver o quente, quer ver o frio.
E como pode alguém viver, vendo no ver o que é feito pra sentir?

Suppion

terça-feira, 6 de outubro de 2009

Escolha difícil

Quem é mais confiável: a boca ou o olho?

segunda-feira, 5 de outubro de 2009

Ainda as estrelas

As estrelas andam me perseguindo, aqui vem mais - do Mário Quintana:

Se as coisas são inatingíveis... ora!
Não é motivo para não querê-las...
Que tristes os caminhos, se não fora
A presença distante das estrelas!

Professor de verdade não ensina, inspira...

Entre as mil coisas que eu quero fazer, uma é tocar numa banda.
Sonho adiado a bastante tempo, quase realizado no começo do ano como tecladista - mas o destino quis deixar isso passar de novo.
Aí o destino reaparece com meu cunhado. Um músico de verdade. Talentoso.
Numa conversa num barzinho disse pra ele que queria tocar guitarra e ser vocalista. Ao contrário de todos, que riem da minha cara quando falo isso, ele pediu pra eu cantar. E disse que eu levava jeito.
Na mesma hora se ofereceu para dar umas aulas de violão. Eu aceitei toda feliz. Marcamos pro dia seguinte.
Achei que ele ia chegar com partituras, desenhos das cordas e me ensinar cada acorde. Fazer treinos de como usar a mão direita. Ir passo a passo. Primeiro você faz assim. Agora podemos passar para a próxima lição.
Qual não foi minha surpresa quando ele chega em casa. Com 2 violões. Uma palheta só pra mim. E apenas uma pergunta: "Que música você quer tocar?".
"Como assim?", pensei. Não é ele que vai me falar? Que vai indicar o que é mais adequado?
Não.
Escolhi. E ele tocou pra mim. Virou com um "teve sorte. Essa é a mais fácil deles".
Como toca? Como você quiser.
Tem que anotar? Não precisa.
E agora não tô seguindo partitura nenhuma. Tô seguindo só o que eu acho que tem que ser. Inventando coisas que nem sei se existem.
Os vizinhos devem estar adorando - porque fiquei até as 2:40h improvisando.
O que vai sair, ainda não sei. Sei que tá me fazendo um bem incrível!

sexta-feira, 2 de outubro de 2009

And it's the stars
The stars that shine for you
And it's the stars
The stars that lie to you