Diacho era uma palavra muitas vezes dita pela minha vó. Nas situações mais difíceis. Aquelas que você não tem pra onde correr.
Enquanto você não vem, eu rio
Enquanto você não vem, eu parto
Enquanto você não vem, me perco
Enquanto você não vem, me acho
Enquanto você não vem, eu bebo
Enquanto você não vem, relaxo
Enquanto você não vem, me esqueço
Enquanto você não vem, me trato
Enquanto você não vem, eu choro
Enquanto você não vem, eu fico
Enquanto você não vem, me engano
Enquanto você não vem, me irrito
Enquanto você não vem, eu finjo
Enquanto você não vem, disfarço
Enquanto você não vem, me espero
Enquanto você não vem, me basto
Enquanto você não vem, não tem
Enquanto você não vem, não vou
Enquanto você não vem, ninguém
Enquanto você não vem. Diacho!
Carolina Campos
terça-feira, 15 de dezembro de 2009
domingo, 13 de dezembro de 2009
A cúpula - capítulo 3 - o amor
(ver capítulos anteriores)
Souza:
Então busquemos. Mas e o amor, acaba? Se é finito é algo limitado. Se é limitado não pode ser complexo. Se não é complexo, porque não sabemos o que ele é e definimos como tal.
Cassius:
Este é um ponto. Quem disse que o amor acaba? Nunca falamos disso, ou dessa forma. Acho que o amor muda sua intensidade. Muda sua forma. Mutante de amor que não finda, pois estamos destinados a amar. Assim como respirar, comer, dormir, sonhar. Só percebemos esse destino porque somos seres conscientes de nossas vidas e atos.
Wagner:
Se amor é consciente e feito de partes. Então o amor pode ser um ato deliberado. Escolhemos as partes e fazemos o amor. Mas escolhemos o amado, objeto do nosso amor?
Sião:
Creio que a minha idade possa responder a sua pergunta. Amei de várias formas e intensidade. Mas não me lembro de escolher quem se ama. Apenas senti e percebi o amor. Mas não livre arbitrei sobre ele.
Wagner:
Então o amor é consciente quando se instala. Mas não temos consciência para escolher quem se ama. É um ato involuntário, não controlamos seu impulso, seu início e nem seu fim.
Cassius:
Amor tem fim? Já disse. Não acredito no fim do amor. Acredito na mudança do amor. Uma mulher dedica sua vida para o seu marido. Um amor maior. Ele a trai. Ela o ama. Esse amor acaba? Ou muda para outro sentir. Dá lugar ao ódio e vingança. O sentimento original se transforma, numa linha contínua, da mesma intensidade e no sentido contrário. Pois se ela amasse menos, menos sentiria seu ódio pulsar pelas mesmas veias.
Valquíria:
Se sinto o amor e ele se transforma. Então ele não pode ser feito de algo imutável. Tem que ser feito de algo que se adapta, muda também. De dentro pra fora, interagindo com o meio. E se seguir o nosso raciocínio, faz isso de maneira consciente porém sem nenhum comando nosso. Somos expectadores do amor.
Sião:
Se ter consciência é preservar a razão. Sim, pois não há ser consciente sem uma razão pra seguir. Por que quando amamos sentimos oprimir a razão. Sentimos que agimos automaticamente perante o amado. Sem pensar e nem deliberar as questões. Será que ao oprimir nossa consciência nos perdemos no sentir? Se for, o amor não pode ser consciente. O que nos faz perder então essa consciência da razão?
Cassius:
Amamos. Isso é fato. Ele tira nossa consciência. Isso se fez fato. Mas você mesmo disse, amou de diversas formas e intensidade. Se pode perceber que ama, então tem consciência dele. Amar é consciente, é mutável, é involuntário, é feito de partes refletidas no objeto amado. Então amor é viver no outro. Consciente da condição, mas sujeito a perder a razão.
Souza:
Então busquemos. Mas e o amor, acaba? Se é finito é algo limitado. Se é limitado não pode ser complexo. Se não é complexo, porque não sabemos o que ele é e definimos como tal.
Cassius:
Este é um ponto. Quem disse que o amor acaba? Nunca falamos disso, ou dessa forma. Acho que o amor muda sua intensidade. Muda sua forma. Mutante de amor que não finda, pois estamos destinados a amar. Assim como respirar, comer, dormir, sonhar. Só percebemos esse destino porque somos seres conscientes de nossas vidas e atos.
Wagner:
Se amor é consciente e feito de partes. Então o amor pode ser um ato deliberado. Escolhemos as partes e fazemos o amor. Mas escolhemos o amado, objeto do nosso amor?
Sião:
Creio que a minha idade possa responder a sua pergunta. Amei de várias formas e intensidade. Mas não me lembro de escolher quem se ama. Apenas senti e percebi o amor. Mas não livre arbitrei sobre ele.
Wagner:
Então o amor é consciente quando se instala. Mas não temos consciência para escolher quem se ama. É um ato involuntário, não controlamos seu impulso, seu início e nem seu fim.
Cassius:
Amor tem fim? Já disse. Não acredito no fim do amor. Acredito na mudança do amor. Uma mulher dedica sua vida para o seu marido. Um amor maior. Ele a trai. Ela o ama. Esse amor acaba? Ou muda para outro sentir. Dá lugar ao ódio e vingança. O sentimento original se transforma, numa linha contínua, da mesma intensidade e no sentido contrário. Pois se ela amasse menos, menos sentiria seu ódio pulsar pelas mesmas veias.
Valquíria:
Se sinto o amor e ele se transforma. Então ele não pode ser feito de algo imutável. Tem que ser feito de algo que se adapta, muda também. De dentro pra fora, interagindo com o meio. E se seguir o nosso raciocínio, faz isso de maneira consciente porém sem nenhum comando nosso. Somos expectadores do amor.
Sião:
Se ter consciência é preservar a razão. Sim, pois não há ser consciente sem uma razão pra seguir. Por que quando amamos sentimos oprimir a razão. Sentimos que agimos automaticamente perante o amado. Sem pensar e nem deliberar as questões. Será que ao oprimir nossa consciência nos perdemos no sentir? Se for, o amor não pode ser consciente. O que nos faz perder então essa consciência da razão?
Cassius:
Amamos. Isso é fato. Ele tira nossa consciência. Isso se fez fato. Mas você mesmo disse, amou de diversas formas e intensidade. Se pode perceber que ama, então tem consciência dele. Amar é consciente, é mutável, é involuntário, é feito de partes refletidas no objeto amado. Então amor é viver no outro. Consciente da condição, mas sujeito a perder a razão.
Pensei
A vida que pensei, nunca existiu.
Pois era um mundo perfeito.
Ausente de vida, repleta de mundos.
Egoísta no existir, existia só pra mim.
Bondosa no sentir, fazia mais de mim.
A vida que pensei foi dividida.
Entre a parte que sonhei e a parte que chorei.
Entre o mundo que perdi e o mundo que ganhei.
Entre o cheiro da lembrança e o gosto da esperança.
Uma beldade. Uma maldade. Uma vida sem idade.
Que não morre com o tempo. Morre só no pensamento.
Pois a vida, aquela de verdade, não tem tempo pra pensar.
Nem por mim, nem por ninguém.
Vive. Por todos.
E no fim, amém.
Suppion
Pois era um mundo perfeito.
Ausente de vida, repleta de mundos.
Egoísta no existir, existia só pra mim.
Bondosa no sentir, fazia mais de mim.
A vida que pensei foi dividida.
Entre a parte que sonhei e a parte que chorei.
Entre o mundo que perdi e o mundo que ganhei.
Entre o cheiro da lembrança e o gosto da esperança.
Uma beldade. Uma maldade. Uma vida sem idade.
Que não morre com o tempo. Morre só no pensamento.
Pois a vida, aquela de verdade, não tem tempo pra pensar.
Nem por mim, nem por ninguém.
Vive. Por todos.
E no fim, amém.
Suppion
terça-feira, 8 de dezembro de 2009
A cúpula - capítulo 2 - o amor.
(para entender melhor, leia os capítulos anteriores)
Vinte minutos depois estavam todos de volta para o centro da questão, o centro da cúpula.
Ancião;
Retomemos de onde paramos. Descartamos tentar entender os tipos de amor, se é que eles existem, aceitamos que o primeiro amor é aquele consciente, não importa a idade que se sentiu. Foi isso?
Tadeu, o formador que estava mais atento que os outros:
- Foi exatamente isso que registrei.
Sião:
Pois ainda não estou convencido que o amor, pelo menos o primeiro, é quando temos consciência dele. Pois podemos ter consciência de muitas coisas, mas e se não temos consciência do que é amar porque não sabemos o que é amor? Afinal, nós, se vocês se lembram, estamos aqui justamente para isso. Será que uma criança sabe que aquele sentimento por seu pai ou mãe representa um amor? Ela tem consciência que ela existe, mas pode não ter que é um ser amante, que ama.
Cassius:
Ora, estamos falando de amor consciente, porque quem sente tem consciência, logo, o amor da primeira infância, aquele de um filho com seus cuidadores, pode ser o primeiro, pode ser o início de tudo, da aprendizagem de amar e do próprio amor. Mesmo que o ser que ama não saiba descrever ou nominar o que sente, o importante é que sente. Pois amor vive do que? De palavras concretas e verbalizadas? Não, amor vive de sentimento.
Souza, contraponto mais jovem:
Então amor é simples. Amor é sentir um querer bem do objeto amado.
Cassius:
Respeito seu pensamento, mas acredito que a nossa busca é mais profunda do que o raso conceito que você cavou. Claro que a sua inquietude, por sua idade é válida, pois está buscando a verdade, mas vejo pontos contraditórios em sua elaboração. Por exemplo, eu quero bem o meu vizinho, mas eu não amo o meu vizinho. Assim, acredito que querer bem pode estar presente no amor, mas não é o amor, pois nem todo querer bem é amor. E se querer bem for amor, um teria que representar o outro em qualquer situação.
Ancião:
Mas então, o que faz parte do amor, mas não é amor? Pois se chegarmos a essas conclusões, podemos excluir diversas possibiidades.
Sião:
Estar presente faz parte do amor. Fazer o bem faz parte do amor. Entender faz parte do amor. Ser solidário faz parte do amor. A verdade faz parte do amor. A alegria pela conquista do amado faz parte do amor. Dividir faz parte do amor. Alguém lembra algo mais?
Valquíria:
Doar faz parte do amor. Morrer pelo amado faz parte do amor. Pensar no amado faz parte do amor. Superar faz parte do amor. Paciência faz parte do amor. Cuidar faz parte do amor. Construir faz parte do amor. Sinceridade faz parte do amor. Sonhar faz parte do amor. Sorrir faz parte do amor.
Wagner:
Conquistar faz parte do amor. Crescer faz parte do amor. Apoiar faz parte do amor. Educar faz parte do amor. Corrigir faz parte do amor. Dialogar faz parte do amor. Perseverar faz parte do amor. Imaginar faz parte do amor. Idealizar faz parte do amor. Confiar faz parte do amor. Aceitar faz parte do amor. Melhorar faz parte do amor.
Ancião:
Alguém mais? Concordamos que nada disso pode ser o amor, seria apenas uma parte de um todo muito maior. Mas para evocar essas partes, o que temos? O que tem no amor que faz com que tudo isso aconteça?
Suppion
Vinte minutos depois estavam todos de volta para o centro da questão, o centro da cúpula.
Ancião;
Retomemos de onde paramos. Descartamos tentar entender os tipos de amor, se é que eles existem, aceitamos que o primeiro amor é aquele consciente, não importa a idade que se sentiu. Foi isso?
Tadeu, o formador que estava mais atento que os outros:
- Foi exatamente isso que registrei.
Sião:
Pois ainda não estou convencido que o amor, pelo menos o primeiro, é quando temos consciência dele. Pois podemos ter consciência de muitas coisas, mas e se não temos consciência do que é amar porque não sabemos o que é amor? Afinal, nós, se vocês se lembram, estamos aqui justamente para isso. Será que uma criança sabe que aquele sentimento por seu pai ou mãe representa um amor? Ela tem consciência que ela existe, mas pode não ter que é um ser amante, que ama.
Cassius:
Ora, estamos falando de amor consciente, porque quem sente tem consciência, logo, o amor da primeira infância, aquele de um filho com seus cuidadores, pode ser o primeiro, pode ser o início de tudo, da aprendizagem de amar e do próprio amor. Mesmo que o ser que ama não saiba descrever ou nominar o que sente, o importante é que sente. Pois amor vive do que? De palavras concretas e verbalizadas? Não, amor vive de sentimento.
Souza, contraponto mais jovem:
Então amor é simples. Amor é sentir um querer bem do objeto amado.
Cassius:
Respeito seu pensamento, mas acredito que a nossa busca é mais profunda do que o raso conceito que você cavou. Claro que a sua inquietude, por sua idade é válida, pois está buscando a verdade, mas vejo pontos contraditórios em sua elaboração. Por exemplo, eu quero bem o meu vizinho, mas eu não amo o meu vizinho. Assim, acredito que querer bem pode estar presente no amor, mas não é o amor, pois nem todo querer bem é amor. E se querer bem for amor, um teria que representar o outro em qualquer situação.
Ancião:
Mas então, o que faz parte do amor, mas não é amor? Pois se chegarmos a essas conclusões, podemos excluir diversas possibiidades.
Sião:
Estar presente faz parte do amor. Fazer o bem faz parte do amor. Entender faz parte do amor. Ser solidário faz parte do amor. A verdade faz parte do amor. A alegria pela conquista do amado faz parte do amor. Dividir faz parte do amor. Alguém lembra algo mais?
Valquíria:
Doar faz parte do amor. Morrer pelo amado faz parte do amor. Pensar no amado faz parte do amor. Superar faz parte do amor. Paciência faz parte do amor. Cuidar faz parte do amor. Construir faz parte do amor. Sinceridade faz parte do amor. Sonhar faz parte do amor. Sorrir faz parte do amor.
Wagner:
Conquistar faz parte do amor. Crescer faz parte do amor. Apoiar faz parte do amor. Educar faz parte do amor. Corrigir faz parte do amor. Dialogar faz parte do amor. Perseverar faz parte do amor. Imaginar faz parte do amor. Idealizar faz parte do amor. Confiar faz parte do amor. Aceitar faz parte do amor. Melhorar faz parte do amor.
Ancião:
Alguém mais? Concordamos que nada disso pode ser o amor, seria apenas uma parte de um todo muito maior. Mas para evocar essas partes, o que temos? O que tem no amor que faz com que tudo isso aconteça?
Suppion
segunda-feira, 7 de dezembro de 2009
A cúpula - Capítulo 1 - O amor.
Estavam todos reunidos. Um falatório sem parar. No centro o ancião, na primeira fila os opinadores, na segunda os contrapontos, na terceira os formadores e da quarta em diante os ouvintes. Esses, não podiam falar, em nenhum momento estavam autorizados a participar. Era assim desde o princípio. Eram ouvintes e seu papel era ouvir, assimilar e espalhar. Levar para fora o que se decidia dentro.
O ancião segurava em uma das mãos o papiro da questão. Hoje o debate iria ser intenso. Na verdade era o dia que a cúpula estava mais cheia. Era interessante. Era essencial. Era o que todos esperavam para tocar suas vidas. Sempre uma breve apresentação se fazia necessário. O ancião mediava e opinava com sua clareza de pensamento todas as partes da questão. Nele estava toda a sabedoria. De um mundo particular, que vivia entre diversos mundos, que não era o centro, nem importante, nem essencial. Apenas mais um mundo num universo inteiro.
O ancião pede silêncio. Pede atenção. Levanta com toda a sua elegância, coloca o papel na mesa e se dirige a pequena multidão presente na cúpula:
- Caros, nossas vidas estão atormentadas. Atormentadas por um decidir que não se conclui. Espero aqui oferecer todos os detalhes para que vocês possam chegar a uma conclusão. Para que o nosso pacto decisório elabore um pensamento comum, torne convenção o que um dia foi discussão, debate. Não podemos mais viver, ou melhor, ter uma vida parada por tal fato. Vamos decidir agora e que seja espalhado por todo o nosso mundo o que aqui for decidido. E que essa decisão seja irrevogável, seja o que é. E acabamos de uma vez por todas com esse pesar. Vamos deliberar por uma vida, mas saiamos daqui com uma definição clara da dúvida que se abateu: o que é o amor? E que assim, essa tormenta se acalme em nosso mundo. Se faça paz novamente.
- Creio que para definir o amor, precisamos decidir se o amor é um ou muitos. Pois se for um, definimos como tal. Se for muitos, definimos cada um com suas qualidades. Em minha vida, senti o amor. E senti de jeitos e formas diferentes. Assim, minha intuição diz que são muitos, pois se senti diferenças entre eles, eles não podem ser iguais. Não em sua totalidade. Sugiro então catalogar o amor. Descobrir quais são esses amores e quando eles despertam. Existem quantos amores presentes em nosso mundo? Opinadores solicito a participação.
Seião, o mais velho dos opinadores levanta e diz:
- Vamos falar de nosso primeiro amor. O amor dos nossos pais. Não sabemos nada sobre ele. Só sentimos. Pra mim esse é o primeiro.
Valentina, mulher de seião, diz:
- Mas é o amor de um pai ou uma mãe com seu filho ou o amor de um filho com seu pai ou sua mãe? Esse amor é de mão dupla, creio que como todos os outros. Qual existe primeiro? Pois se um filho existe sem ter consciência na barriga de sua mãe, pra mim vale o amor consciente, da mãe que sente e percebe o filho. Por isso acredito, o primeiro amor é o amor de mãe. Desculpe, nas nem o pai pode sentir esse primeiro amor. Só nós, mulheres. Assim, o primeiro amor sugiro ser concluído como amor de mãe. O início de tudo. O amor da vida.
Sião:
- Pois bem, se queres invocar sua condição materna na cúpula que o faça. Mas quem garante que, ao anunciar um filho ao seu pai, não desperta o amor? Um pai não pode carregar o amor de seu filho, sem carregar o filho? Porque não o primeiro amor é o amor dos pais, ambos em sua felicidade.
Valentina:
- Pois claro que pode. Mas se estamos falando do primeiro amor, estamos falando de um primeiro despertar. E amor só desperta sentindo. E o primeiro é aquele de quem o sente primeiro. Logo, amor de mãe é o primeiro. Ou você acredita saber antes de uma mulher que seu ventre está repleto de vida? Só sente quem tem o que sentir. O amor da vida é o primeiro, e só pode ser sentido por uma mãe.
Ancião:
- Mas se existe um filho, existe um amor de seus criadores. Ele é anterior ao amor de uma mãe. Assim como uma mãe também foi filha e amou antes ainda de que seu marido, seus pais, irmãos, família... qual amor é o primeiro, pensemos.
Sião:
- Creio que aqui há um dilema inicial, solicito que os contrapontos se manifestem.
Cassius, contraponto mais velho diz:
- Acho que a relevância dessa discussão é definirmos o amor. Qual vem primeiro é apenas uma forma de classificar tipos de amor, como foi colocado, para não deixar nenhum de fora, porque assim começamos. E se começamos deliberadamente tentar entender o amor, tomemos isso como exemplo para nossas conclusões. Um ser só pode amar quando tem consciência do amor. Assim como estamos conscientes agora. Então se estamos falando de amar consciente, e se a consciência nos é apresentada na infância, acredito que o primeiro amor é o amor de uma criança por quem a cuida, não necessariamente seus pais. Pois se essa criança não tem mais seus pais? Se eles morreram e a criação foi dada aos avós, ou tios, ou parentes. Essa criança não iria sentir o primeiro amor? Estaria privada de amar? Ora, claro que iria amar. Amor não escolhe, apenas sente, existe e passa de um para o outro.
Ancião:
- Pois essa foi uma questão bem levantada. Se existe outra opinião, contrária ou complementar que se manifeste. Pois precisamos avançar. O tempo pede.
Wagner, contraponto eleito pelos ouvintes:
- Não quero discordar. Quero clarear. Se o amor só pode ser amor quando se tem consciência sobre ele. Creio que o primeiro amor não é de pai, de mãe, de filho ou de qualquer outro ser. O primeiro amor é o amor consciente. Seja lá quando ele desperta.
Ancião:
Pois voltemos ao zero. Se seguir seu pensamento, não temos mais tipos de amor. Temos um apenas, o amor consciente. Pois me parece que todos afirmaram que só ama quando se tem consciência. E a consciência do amor. Será que o amor é único então?
Valquiria:
Posso refletir mais, por hora, creio que não sinto o mesmo amor por meu filho, do que por meu marido, do que por meus pais, do que por meus tios. Acho sim, que o amor tem tipos. Tem diferenças. E o primeiro amor é o de mãe.
Wagner:
Insistes num ponto que já adiantamos. Mas vamos refletir sobre ele para esgotar as possibilidades. E não apenas para convencer, mas para entender. Será que não estamos confundindo o objeto do amor, com o próprio amor? Pois estamos dando posse para o amor. Amor de mãe, amor de pai, amor de filho. Ora, será que o amor é um, e se manifesta diferente porque os objetos amados são diferentes? Pois se for assim, podemos acreditar que existem diferentes amados, mas só um amor. Que muda o sentir, depende de quem se ama. Como a água que se encontra o calor, evapora. Se encontra o frio vira gelo, se a temperatura é amena é líquida, talvez até evoluindo no pensar, se encontra o barro é lama, se encontra o mar é salgada. Mas é sempre água. Se apresenta de diversas maneiras, mas olhamos e extraímos água.
Cassius:
- Pois bem, concordo. Me fez concluir que o amor é único. E o único amor que podemos sentir é o amor consciente refletido no objeto amado. Pois esquecemos de classificar as reações do amor com seus amados, vamos falar o que é que tem essa reação comum em todas as formas. Acho que aí podemos definir o amor em sua essência e não em suas qualidades. Vamos ver de que água é feito o amor.
Ancião:
Sugiro uma pausa para realocar o pensamento. Reagrupar o que dividimos. E entender melhor para onde vamos.
Suppion
O ancião segurava em uma das mãos o papiro da questão. Hoje o debate iria ser intenso. Na verdade era o dia que a cúpula estava mais cheia. Era interessante. Era essencial. Era o que todos esperavam para tocar suas vidas. Sempre uma breve apresentação se fazia necessário. O ancião mediava e opinava com sua clareza de pensamento todas as partes da questão. Nele estava toda a sabedoria. De um mundo particular, que vivia entre diversos mundos, que não era o centro, nem importante, nem essencial. Apenas mais um mundo num universo inteiro.
O ancião pede silêncio. Pede atenção. Levanta com toda a sua elegância, coloca o papel na mesa e se dirige a pequena multidão presente na cúpula:
- Caros, nossas vidas estão atormentadas. Atormentadas por um decidir que não se conclui. Espero aqui oferecer todos os detalhes para que vocês possam chegar a uma conclusão. Para que o nosso pacto decisório elabore um pensamento comum, torne convenção o que um dia foi discussão, debate. Não podemos mais viver, ou melhor, ter uma vida parada por tal fato. Vamos decidir agora e que seja espalhado por todo o nosso mundo o que aqui for decidido. E que essa decisão seja irrevogável, seja o que é. E acabamos de uma vez por todas com esse pesar. Vamos deliberar por uma vida, mas saiamos daqui com uma definição clara da dúvida que se abateu: o que é o amor? E que assim, essa tormenta se acalme em nosso mundo. Se faça paz novamente.
- Creio que para definir o amor, precisamos decidir se o amor é um ou muitos. Pois se for um, definimos como tal. Se for muitos, definimos cada um com suas qualidades. Em minha vida, senti o amor. E senti de jeitos e formas diferentes. Assim, minha intuição diz que são muitos, pois se senti diferenças entre eles, eles não podem ser iguais. Não em sua totalidade. Sugiro então catalogar o amor. Descobrir quais são esses amores e quando eles despertam. Existem quantos amores presentes em nosso mundo? Opinadores solicito a participação.
Seião, o mais velho dos opinadores levanta e diz:
- Vamos falar de nosso primeiro amor. O amor dos nossos pais. Não sabemos nada sobre ele. Só sentimos. Pra mim esse é o primeiro.
Valentina, mulher de seião, diz:
- Mas é o amor de um pai ou uma mãe com seu filho ou o amor de um filho com seu pai ou sua mãe? Esse amor é de mão dupla, creio que como todos os outros. Qual existe primeiro? Pois se um filho existe sem ter consciência na barriga de sua mãe, pra mim vale o amor consciente, da mãe que sente e percebe o filho. Por isso acredito, o primeiro amor é o amor de mãe. Desculpe, nas nem o pai pode sentir esse primeiro amor. Só nós, mulheres. Assim, o primeiro amor sugiro ser concluído como amor de mãe. O início de tudo. O amor da vida.
Sião:
- Pois bem, se queres invocar sua condição materna na cúpula que o faça. Mas quem garante que, ao anunciar um filho ao seu pai, não desperta o amor? Um pai não pode carregar o amor de seu filho, sem carregar o filho? Porque não o primeiro amor é o amor dos pais, ambos em sua felicidade.
Valentina:
- Pois claro que pode. Mas se estamos falando do primeiro amor, estamos falando de um primeiro despertar. E amor só desperta sentindo. E o primeiro é aquele de quem o sente primeiro. Logo, amor de mãe é o primeiro. Ou você acredita saber antes de uma mulher que seu ventre está repleto de vida? Só sente quem tem o que sentir. O amor da vida é o primeiro, e só pode ser sentido por uma mãe.
Ancião:
- Mas se existe um filho, existe um amor de seus criadores. Ele é anterior ao amor de uma mãe. Assim como uma mãe também foi filha e amou antes ainda de que seu marido, seus pais, irmãos, família... qual amor é o primeiro, pensemos.
Sião:
- Creio que aqui há um dilema inicial, solicito que os contrapontos se manifestem.
Cassius, contraponto mais velho diz:
- Acho que a relevância dessa discussão é definirmos o amor. Qual vem primeiro é apenas uma forma de classificar tipos de amor, como foi colocado, para não deixar nenhum de fora, porque assim começamos. E se começamos deliberadamente tentar entender o amor, tomemos isso como exemplo para nossas conclusões. Um ser só pode amar quando tem consciência do amor. Assim como estamos conscientes agora. Então se estamos falando de amar consciente, e se a consciência nos é apresentada na infância, acredito que o primeiro amor é o amor de uma criança por quem a cuida, não necessariamente seus pais. Pois se essa criança não tem mais seus pais? Se eles morreram e a criação foi dada aos avós, ou tios, ou parentes. Essa criança não iria sentir o primeiro amor? Estaria privada de amar? Ora, claro que iria amar. Amor não escolhe, apenas sente, existe e passa de um para o outro.
Ancião:
- Pois essa foi uma questão bem levantada. Se existe outra opinião, contrária ou complementar que se manifeste. Pois precisamos avançar. O tempo pede.
Wagner, contraponto eleito pelos ouvintes:
- Não quero discordar. Quero clarear. Se o amor só pode ser amor quando se tem consciência sobre ele. Creio que o primeiro amor não é de pai, de mãe, de filho ou de qualquer outro ser. O primeiro amor é o amor consciente. Seja lá quando ele desperta.
Ancião:
Pois voltemos ao zero. Se seguir seu pensamento, não temos mais tipos de amor. Temos um apenas, o amor consciente. Pois me parece que todos afirmaram que só ama quando se tem consciência. E a consciência do amor. Será que o amor é único então?
Valquiria:
Posso refletir mais, por hora, creio que não sinto o mesmo amor por meu filho, do que por meu marido, do que por meus pais, do que por meus tios. Acho sim, que o amor tem tipos. Tem diferenças. E o primeiro amor é o de mãe.
Wagner:
Insistes num ponto que já adiantamos. Mas vamos refletir sobre ele para esgotar as possibilidades. E não apenas para convencer, mas para entender. Será que não estamos confundindo o objeto do amor, com o próprio amor? Pois estamos dando posse para o amor. Amor de mãe, amor de pai, amor de filho. Ora, será que o amor é um, e se manifesta diferente porque os objetos amados são diferentes? Pois se for assim, podemos acreditar que existem diferentes amados, mas só um amor. Que muda o sentir, depende de quem se ama. Como a água que se encontra o calor, evapora. Se encontra o frio vira gelo, se a temperatura é amena é líquida, talvez até evoluindo no pensar, se encontra o barro é lama, se encontra o mar é salgada. Mas é sempre água. Se apresenta de diversas maneiras, mas olhamos e extraímos água.
Cassius:
- Pois bem, concordo. Me fez concluir que o amor é único. E o único amor que podemos sentir é o amor consciente refletido no objeto amado. Pois esquecemos de classificar as reações do amor com seus amados, vamos falar o que é que tem essa reação comum em todas as formas. Acho que aí podemos definir o amor em sua essência e não em suas qualidades. Vamos ver de que água é feito o amor.
Ancião:
Sugiro uma pausa para realocar o pensamento. Reagrupar o que dividimos. E entender melhor para onde vamos.
Suppion
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